Night World

O Mundo da Noite não é um lugar. É tudo o que nos rodeia. É uma sociedade secreta de vampiros, lobisomens, bruxas e outras criaturas da escuridão que vivem entre nós. Eles são lindos e mortais e irresistiveis para os seres humanos. O seu professor da escola pode ser um, e seu namorado também.
Night Wolrld - Vampire Secrets

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sai 1º capítulo de "Crescendo" - Becca Fitzpatrick

Como comentei uns dias atras, o livro Sussurro terá uma continuação, no Brasil terá o titulo de "Crescendo". Bom, segue a tradução do primeiro capítulo do livro.
Graças a Melissa´s e a Comunidade no Orkut Traduções Fromhell, segue só para dar vontade.

Prólogo


Coldwater, Maine

Quatorze meses atrás


As pontas do pilriteiro* arranharam a vidraça atrás de Harrison Grey, e ele dobrou o canto de sua página, não mais capaz de ler com essa algazarra. Um vento furioso da primavera se atirava contra a casa da fazenda a noite toda, uivando e assobiando, fazendo com que as persianas batessem contra as tábuas com um bang! bang! bang! repetitivo. O calendário podia ter mudado para março, mas Harrison sabia melhor e não pensava que a primavera estava a caminho. Com uma tempestade se aproximando, ele não ficaria surpreso em descobrir o campo congelado em brancura glacial de manhã. Para afogar o grito perfurante do vento, Harrison apertou o controle remoto, ligando “Ombra mai fu”** de Bononcini. Então ele colocou outra lenha na fogueira, perguntando a si mesmo, não pela primeira vez, se ele teria comprado a casa da fazenda se soubesse quanto combustível precisava para aquecer um comodozinho, quanto mais todos os nove.

* http://www.espinhel.com/imgs/flora/pilriteiro/pilriteiro1 .BMP** ária da ópera Serse (Xerxes). O título significa, em italiano, ‘Sombra que nunca existiu’. O telefone guinchou.

Harrison pegou-o na metade do segundo toque, esperando ouvir a voz da melhor amiga de sua filha, que tinha o irritante hábito de ligar na hora mais tarde possível da noite antes do fim do prazo da lição de casa.

Uma respiração superficial e rápida soou em seu ouvido antes de uma voz quebrar a estática. “Precisamos nos encontrar. Quando pode estar aqui?”



A voz flutuou por Harrison, um fantasma de seu passado, deixando-o gelado nos ossos. Fazia muito tempo desde que ele ouvira a voz, e ouvindo-a agora só podia significar que algo tinha dado errado. Terrivelmente errado. Ele percebeu que o telefone em sua mão estava escorregadio com suor, sua postura rígida.

“Uma hora,” ele respondeu planamente.

Ele foi devagar em devolver o telefone de mão. Ele fechou seus olhos, sua mente hesitantemente viajando para trás. Houvera uma época, há quinze anos, quando ele congelava ao som do telefone tocando, os segundos martelando como baterias enquanto ele esperava pela voz no outro lado falar. Com o passar do tempo, enquanto um ano pacífico substituía o outro, ele eventualmente se convenceu que era um homem que tinha deixado para trás os segredos de seu passado. Ele era um homem vivendo uma vida normal, um homem com uma linda família. Um homem sem nada a temer.

Na cozinha, parado sobre a pia, Harrison se serviu de um copo d’água e a engoliu. Estava totalmente negro do lado de fora, e seu reflexo de cera encarou de volta da janela diretamente à frente. Harrison assentiu, como se para dizer a si mesmo que tudo ficaria bem. Mas seus olhos estavam pesados com mentiras.

Ele afrouxou sua gravata para aliviar a tensão dentro dele que parecia esticar sua pele, e serviu um segundo copo. A água nadou desconfortavelmente dentro dele, ameaçando voltar. Colocando o copo na bacia da pia, ele esticou sua mão para as chaves do carro na bancada, hesitando uma vez como se para mudar de ideia.

Harrison parou o carro na curva e desligou os faróis. Sentando na escuridão, soltando fumaça com a boca, ele absorveu as filas de casas de tijolo desmanteladas numa seção miserável de Portland. Fazia anos – quinze para ser exato – desde que ele colocara os pés na vizinhança, e dependendo de sua memória enferrujada, ele não tinha certeza se estava no lugar certo. Ela abriu o porta-luvas e retirou um pedaço de papel amarelado pelo tempo. 1565 Monroe. Ele estava prestes a sair do carro, mas o silêncio nas ruas o incomodou. Esticando sua mão para debaixo de seu assento, ele puxou uma Smith & Wesson* carregada e a enfiou no elástico de sua calça na parte inferior de suas costas. Ele não tinha mirado uma arma desde a faculdade, e nunca fora de uma estande de tiro. O único pensamento claro em sua cabeça palpitante era de que ele esperava que ainda pudesse dizer isso daqui a uma hora.

* marca de revólver (http://www.ozarkguns.com/pistols/Smith%20&/smith_pistol_files/170257_large .jpg)

O barulho dos sapatos de Harrison soavam altos na calçada deserta, mas ele ignorou o ritmo, escolhendo, ao invés, focar sua atenção nas sombras lançadas pela lua prateada. Acocorando-se mais profundamente em seu casaco, ele passou por jardins de terra confinada enclausurados por cercas de elo de corrente, as casas além de deles escuras e silenciosamente misteriosas. Por duas vezes ele sentiu como se estivesse sendo seguido, mas quando ele olhou para trás, não havia ninguém.







Na Monroe número 1565, ele se deixou passar pelo portão e deu uma volta pela parte de trás da casa. Ele bateu uma vez e viu uma sombra se mover atrás das cortinas de renda.

A porta rangeu.

“Sou eu,” Harrison disse, mantendo sua voz baixa.

A porta abriu simplesmente o bastante para admiti-lo.

“Você foi seguido?” foi perguntado a ele.

“Não.”

“Ela está encrencada.”

O coração de Harrison se acelerou. “Que tipo de encrenca?”

“Quando ela fizer dezesseis, ele irá atrás dela. Você precisa levá-la para bem longe. Para algum lugar onde ele nunca a achará.”

Harrison balançou sua cabeça. “Não entendo–”

Ele foi cortado por um olhar ameaçador. “Quando fizemos esse acordo, eu lhe disse que haveria coisas que você não entenderia. Dezesseis é uma idade amaldiçoada no – no meu mundo. Isso é tudo que precisa saber,” ele terminou bruscamente.

Os dois homens observaram um ao outro, até que por fim Harrison assentiu cauteloso.

“Você tem que cobrir seus rastros,” lhe foi dito. “Onde quer que vá, você tem que recomeçar. Ninguém pode saber que você veio do Maine. Ninguém. Ele nunca parará de procurar por ela. Entendeu?”

“Entendi.” Mas sua mulher entenderia? Nora entenderia?

A visão de Harrison estava se adaptando à escuridão, e ele notou com uma curiosidade descrente que o homem parado perante ele não parecia ter envelhecido um dia desde seu último encontro. Em fato, ele não tinha envelhecido um dia desde a faculdade, quando eles tinham se conhecido como colegas de quarto e rapidamente se tornaram amigos. Um truque das sombras? Harrison se perguntou. Não havia mais nada a que atribuir isso. Uma coisa tinha mudado, contudo. Havia uma pequena cicatriz na base da garganta de seu amigo. Harrison deu uma olhada mais próxima na deformação e recuou. Uma marca de queimadura, levantada e brilhante, não maior do que uma moeda de vinte e cinco centavos. Tinha a forma de um punho fechado. Para seu choque e horror, Harrison percebeu que seu amigo fora marcado. Como gado.





Seu amigo sentiu a direção do olhar de Harrison, e seus olhos ficaram duros, defensivos. “Há pessoas que querem me destruir. Que querem me desmoralizar e me desumanizar. Junto com um amigo de confiança, formei uma sociedade. Mais membros estão sendo iniciados o tempo todo.” Ele parou no meio da sentença, como se incerto de quanto mais ele deveria dizer, então terminou bruscamente, “Nós organizamos a sociedade para nos dar proteção, e eu jurei fidelidade. Se me conhece tão bem quanto já me conhecera, você sabe que farei o que precisar para proteger meus interesses.” Ele fez uma pausa e acrescentou quase distraidamente, “E meu futuro.”

“Eles te marcaram,” Harrison disse, esperando que seu amigo não detectasse a repulsão que estremecia por ele.

Seu amigo meramente olhou para ele.

Após um momento Harrison assentiu, sinalizando que ele entendia, mesmo se não aceitasse. Quanto menos ele soubesse, melhor. Seu amigo tinha deixado isso claro vezes demais para se contar. “Há algo mais que posso fazer?”

“Simplesmente mantenha-a a salvo.”

Harrison empurrou seu óculos pela ponte de seu nariz. Ele começou embaraçadamente, “Achei que você gostaria de saber que ela cresceu saudável e forte. Nós a nomeamos Nor–“

“Não quero ser lembrado do nome dela,” seu amigo interrompeu duramente. “Fiz tudo em meu poder para reprimi-lo da minha mente. Não quero saber nada sobre ela. Eu quero minha mente lavada de qualquer traço dela, então não tenho nada para dar para aquele bastardo." Ele virou suas costas, e Harrison tomou o gesto como dizendo que a conversa tinha acabado. Harrison ficou parado por um momento, tantas perguntas na ponta de sua língua, mas ao mesmo tempo, sabendo que nada de bom viria de ficar pressionando.

Sufocando sua vontade de entender esse mundo obscuro que sua filha não fizera nada para merecer, ele se deixou sair.

Ele só andara meia quadra quando um tiro rasgou a noite.





Instintivamente Harrison se abaixou e girou. Seu amigo. Um segundo tiro foi disparado, e sem pensar, ele correu a toda velocidade de volta na direção da casa. Ele passou pelo portão e cortou pelo jardim lateral. Ele tinha quase contornado a esquina final quando vozes discutindo fizeram com que ele parasse. Apesar do frio, ele suava. O quintal estava envolto em escuridão, e ele se aproximou da parede do jardim, cuidadoso em evitar chutar pedras soltas que indicariam seu paradeiro, até que a porta de trás entrou em vista.

“Última chance,” disse uma voz suave e calma que Harrison não reconhecia.

“Vá para o inferno,” seu amigo cuspiu.

Um terceiro tiro. Seu amigo gritei em dor, e o atirador chamou mais alto, "Onde está ela?"

Com o coração martelando, Harrison sabia que tinha que agir. Outros cinco segundo e podia ser tarde demais. Ele deslizou sua mão para a parte debaixo de suas costas e retirou a arma. Segurando-a com as duas mãos para firmar o aperto, ele se deslocou na direção da entrada, aproximando-se do atirador moreno por trás. Harrison viu seu amigo além do atirador, mas quando ele fez contato visual, a expressão de seu amigo cheia de alarme.

Vá!

Harrison ouviu a ordem de seu amigo alta como um sino, e por um momento acreditou que tivesse sido gritada em voz alta. Mas quando o atirador não se virou em surpresa, Harrison percebeu com uma fria confusão de que a voz de seu amigo tinha soado dentro de sua cabeça.

Não, Harrison pensou de volta com um silencioso balançar de cabeça, seu senso de lealdade excedendo o que ele não conseguia compreender. Esse era o homem com quem ele passara quatro dos melhores anos de sua vida. O homem que o apresentara à sua esposa. Ele não iria deixá-lo aqui nas mãos de um assassino.

Harrison puxou o gatilho. Ele ouviu o tiro ensurdecedor e esperou que o atirador se dobrar. Harrison atirou outra vez. E outra.

O jovem moreno se virou lentamente. Pela primeira vez em sua vida, Harrison se encontrou realmente com medo. Com medo do jovem parado perante ele, arma na mão.





Com medo da morte. Com medo do que aconteceria com sua família.

Ele sentiu os tiros o perfurarem com um fogo abrasador que parecia estilhaçá-lo em mil pedaços. Ele caiu de joelhos. Ele viu o rosto de sua esposa borrar em sua visão, seguido pelo de sua filha. Ele abriu sua boca, seus nomes em seus lábios, e tentou encontrar uma maneira de dizer o quanto as amava antes que fosse tarde demais.

O jovem estava com suas mãos em Harrison agora, arrastando-o para o beco na parte de trás da casa. Harrison conseguia sentir a consciência o deixando enquanto ele lutava sem sucesso colocar seus pés no chão. Ele não podia falhar com sua filha. Não haveria ninguém para protegê-la. Esse atirador moreno a acharia e, se seu amigo estivesse certo, a mataria.

“Quem é você?” Harrison perguntou, as palavras fazendo com que fogo espalhasse pelo seu peito.

Ele se agarrou à esperança de ainda haver tempo. Talvez ele pudesse alertar Nora do outro mundo – um mundo que estivesse fechando sobre ele como mil penas pintadas de preto caindo.

O jovem observou Harrison por um momento antes do mais fraco dos sorrisos quebrar sua expressão dura como gelo. “Você pensou errado. É definitivamente tarde demais.”

Harrison olhou para cima severamente, assustado pelo assassino ter adivinhado seus pensamentos, e não conseguiu evitar se perguntar quantas vezes o jovem tinha estado nessa mesma posição antes para adivinhar os pensamentos finais de um homem morrendo. Não poucas.

Como se para provar como ele tinha prática, o jovem mirou a arma sem uma segunda batida de hesitação, e Harrison se encontrou encarando o cano da arma. A luz do tiro disparado chamejou, e foi a última imagem que ele viu.





Capítulo 1

Praia Delphic, Maine

Presente





Patch estava de pé atrás de mim, suas mãos nos meus quadris, seu corpo relaxado. Ele tinha um metro e oitenta e oito centímetros de um corpo magro e atlético que nem uma calça jeans larga e camiseta conseguiam esconder. A cor de seu cabelo dava uma surra na cor da meia-noite, com olhos que combinavam. Seu sorriso era sexy e alertava encrenca, mas eu me convencera de que nem toda encrenca era ruim.

Acima, fogos de artifício iluminavam o céu noturno, chovendo rios de cor no Atlântico.

A multidão fez oohs e aahs. Era fim de junho, e Maine estava entrando no verão com tudo, celebrando o começo de dois meses de sol, areia, e turistas com bolsos cheios. Eu estava celebrando dois meses de sol, areia, e muito tempo exclusivo com Patch. Eu tinha me matriculado em um curso da escola de verão – química – e tinha toda a intenção de deixar Patch monopolizar o resto do meu tempo livre.

O departamento dos bombeiros estava soltando os fogos de artifício em uma doca que não poderia estar a mais de cento e oitenta e três metros da praia onde estávamos, e eu sentia o retumbar de cada um vibrando na areia sob meus pés. Ondas batiam na praia logo abaixo da colina, e a música do festival tocava ao máximo. O cheiro de algodão-doce, pipoca, e carne fritando pairava densamente no ar, e meu estômago me lembrou que eu não tinha comido desde o almoço.

“Vou pegar um cheeseburger,” eu disse ao Patch. “Quer alguma coisa?”

“Nada do menu.”

Eu sorri. “Ora, Patch, está flertando comigo?”

Ele beijou o alto da minha cabeça. “Ainda não. Eu pego o seu cheeseburger. Curta o fim dos fogos de artifício.”

Eu peguei um dos passadores de cinto de sua calça para pará-lo. “Valeu, mas eu vou pedir. Não consigo aguentar a culpa.”

Ele levantou suas sobrancelhas em inquisição.

“Quando foi a última vez que a garota na barraca de hambúrguer deixou você pagar pela comida?”

“Faz um tempo.”

“Faz desde sempre. Fique aqui. Se ela te ver, passarei o resto da noite com uma consciência culpada.”

Patch abriu sua carteira e tirou uma nota de vinte. “Deixe uma bela gorjeta para ela.”

Foi a minha vez de levantar minhas sobrancelhas. “Tentando se redimir por todas aquelas vezes que pegou comida de graça?”

“Da última vez que eu paguei, ela me caçou e enfiou o dinheiro no meu bolso. Estou tentando evitar outra apalpação.”

Parecia invenção, mas conhecendo o Patch, provavelmente era verdade.

Eu busquei o fim de uma longa fila que se enrolava na barraca de hambúrguer, achando-a perto da entrada para o carrossel interno. Julgando pelo tamanho da fila, eu estimei uma espera de quinze minutos só para fazer meu pedido. Uma barraca de hambúrguer na praia inteira. Parecia muito anti-americano.

Após alguns minutos de espera impaciente, eu estava dando o que devia ser minha décima olhada entediada ao redor quando avistei Marcie Millar parada a dois lugares atrás. Marcie e eu tínhamos freqüentado a escola juntas desde o jardim-de-infância, e nos onze anos desde então, eu a tinha visto mais do que eu gostaria de lembrar. Por causa dela, a escola toda tinha visto mais que o necessário das minhas roupas de baixo. No ensino fundamental, o modus operandi de Marcie era roubar meu sutiã do meu armário do vestiário e o prender no quadro de avisos do lado de fora dos escritórios principais, mas ocasionalmente ela ficava criativa e os usava como peça de centro na lanchonete - meus dois bojos tamanho 34 cheios de pudim de baunilha e com cerejas marasquino no topo. Classudo, eu sei. As saias de Marcie eram dois tamanhos menores e doze centímetros curtas demais. Seu cabelo era de um loiro morango, e ela tinha o formato de um palito de picolé - vire-a de lado e ela praticamente desaparecia. Se houvesse um placar checando as vitórias e derrotas entre nós, eu tinha bastante certeza que Marcie tinha dobrado os meus pontos.

“Ei,” eu disse, despropositalmente capturando sua atenção e não vendo nenhuma alternativa para um cumprimento mínimo.

“Ei,” ela retornou no que com muito esforço passava como um tom civil.





Ver Marcie na Praia Delphic hoje à noite era como brincar de Ache o Erro na Figura. O pai de Marcie era dono da revenda de Toyota em Coldwater, sua família vivia numa elegante vizinhança na encosta de uma colina, e os Millars tinham orgulho em serem os únicos cidadãos de Coldwater bem-vindos no prestigioso Clube de Iate de Harraseeket. Neste exato minuto, os pais de Marcie estavam provavelmente em Freeport, correndo em veleiros e pedindo salmão.

Em contraste, Delphic era uma praia vagabunda. Pensar em um clube de iate era ridículo.

O único restaurante tomava a forma de uma barraca de hambúrguer pintada de branca com você podendo escolher ou ketchup ou mostarda. Num dia bom, batatas fritas eram oferecidas na mistura. O entretenimento tendia na direção de arcadas barulhentas e carrinhos de bate-bate, e depois de escuro, o estacionamento era conhecido por vender mais drogas que uma farmácia.

Não era o tipo de atmosfera na qual o Sr. e a Sra. Millar iriam querer que sua filha se poluísse.

“Dá pra gente ir mais devagar, pessoal?” Marcie gritou da fila. “Alguns de nós estão morrendo de fome aqui atrás.”

“Só tem uma pessoa trabalhando no balcão,” eu disse a ela.

“E daí? Deveriam contratar mais pessoas. Oferta e procura.”

Dado sua média, Marcie era a última pessoa que deveria estar recitando economia.

Dez minutos mais tarde eu fizera progresso, e estava próxima o bastante da barraca de hambúrguer para ler a palavra MOSTARDA rabiscada em caneta permanente preta no recipiente de esguicho comum amarelo. Atrás de mim, Marcie fez o negócio todo de mudar-o-peso-entre-os-quadris-e-suspirar

.

“Faminta com um F maiúsculo,” ela reclamou.

O cara na fila na minha frente pagou e levou embora sua comida.

“Um cheeseburguer e uma Coca,” eu disse à garota trabalhando na barraca.

Enquanto ela ficava sobre a grelha anotando meu pedido, eu me virei para Marcie. “Então. Com quem você está aqui?” Eu não ligava particularmente com quem ela tinha vindo, especialmente já que não partilhávamos nenhum dos mesmos amigos, mas meu senso de cortesia ganhou de mim.

Além do mais, Marcie não tinha feito nada abertamente rude comigo em semanas. E ficamos em relativa paz pelos últimos quinze minutos. Talvez fosse o começo de uma trégua. Águas passadas e tudo isso.

Ela bocejou, como se falar comigo fosse mais entediante do que esperar na fila e encarar as costas das cabeças das pessoas. “Sem ofenda, mas não estou com saco para papear. Estou na fila pelo que parecem ser cinco horas, esperando por uma garota incompetente que obviamente não consegue cozinhar dois hambúrguer de uma só vez.”

A garota atrás da bancada tinha sua cabeça abaixada, concentrando-se em tirar a película de carnes de hambúrguer pré-preparadas da folha de cera, mas eu sabia que ela ouvira. Ela provavelmente odiava seu trabalho. Ela provavelmente cuspia secretamente nas carnes de hambúrguer quando virava de costas. Não ficaria surpresa se ao final de seu expediente ela fosse para seu carro e chorasse.

“O seu pai não se importa de você estar passeando na Praia Delphic?” eu perguntei a Marcie, estreitando meus olhos ligeiramente. “Pode macular a estimada reputação da família Millar. Especialmente agora que seu pai foi aceito no Clube de Iate de Harraseeket.”

A expressão de Marcie se esfriou. “Fico surpresa do seu pai não se importar por você estar aqui. Ah, espera. É mesmo. Ele está morto.”

Minha reação inicial foi choque. Minha segunda foi indignação pela sua crueldade. Um nó de raiva inchou minha garganta.

“O quê?” ela discutiu com um dar de ombro. “Ele está morto. É um fato. Você quer que eu minta sobre os fatos?”

“O que foi que eu já fiz para você?”

“Você nasceu.”





Sua completa falta de sensibilidade me puxou de dentro para fora – tanto que eu nem tinha uma resposta. Eu peguei meu cheeseburguer e Coca da bancada, deixando a nota de vinte em seu lugar. Eu queria muito voltar correndo para Patch, mas isso era entre eu e a Marcie. Se eu aparecesse agora, uma olhada para o meu rosto diria a Patch que algo estava errado. Eu não precisava arrastá-lo para o meio. Levando um instante, sozinha, para me recompor, eu encontrei um banco à vista da barraca de hambúrguer e me sentei tão graciosamente quanto pude, não querendo dar a Marcie o poder de arruinar minha noite. A única coisa que faria esse momento pior era saber que ela estava observando, satisfeita por ter me enfiado num buraquinho negro de auto-piedade. Eu dei uma mordida no cheeseburguer, mas ele deixou um gosto ruim na minha boca. Tudo em que conseguia pensar era em carne morta. Vacas mortas. Meu próprio pai morto.

Eu joguei meu cheeseburguer no lixo e continuei andando, sentindo as lágrimas deslizarem pela parte detrás da minha garganta.

Abraçando meus braços apertadamente pelos cotovelos, eu me apressei na direção dos banheiros móveis no fim do estacionamento, esperando chegar atrás de um boxe antes que as lágrimas começassem a cair. Havia uma fila firme escorrendo do sanitário feminino, mas eu fui caminhando até a entrada e me posicionei na frente de um dos espelhos cobertos de sujeira. Mesmo sob o bulbo de baixa voltagem, eu conseguia afirmar que meus olhos estavam vermelhos e vítreos.

Eu molhei um papel-toalha e o pressionei nos meus olhos. Qual era o problema da Marcie? O que eu já tinha feito a ela que fosse cruel o bastante para merecer isso?

Puxando alguns fôlegos estabilizantes, eu esquadrinhei meus ombros e construí uma parede de tijolos na minha mente, colocando Marcie no lado mais longe dela. Por que eu ligava para o que ela dizia? Eu nem ao menos gostava dela. Sua opinião não significava nada. Ela era rude e egocêntrica e jogava baixo. Ela não me conhecia, e ela definitivamente não conhecia o meu pai.

Chorar por causa de uma única palavra que caíra de sua boca era um desperdício.

Supere, eu disse a mim mesma.

Eu esperei até que o vermelho cercando meus olhos desbotasse antes de deixar o banheiro. Eu vaguei pela multidão, procurando pelo Patch, e o encontrei em um dos jogos de atirar bolas, suas costas para mim. Rixon estava ao seu lado, provavelmente apostando dinheiro na inabilidade de Patch derrubar um único pino de boliche. Rixon era um anjo caído que tinha uma longa história com Patch, e seus laços eram profundos, ao ponto de irmandade. Patch não deixava muitas pessoas entrarem em sua vida, e confiava em menos pessoas ainda, mas se havia uma pessoa que conhecia todos os seus segredos, era Rixon.

Até dois meses atrás, Patch também fora um anjo caído. Então ele salvara a minha vida, ganhara suas asas de volta, e se tornara meu anjo da guarda. Ele devia jogar no time dos bonzinhos agora, mas eu sentia secretamente que sua conexão com Rixon, e com o mundo dos anjos caídos, significava mais para ele. E mesmo eu não querendo admitir, eu sentia que ele se arrependia da decisão dos arcanjos de fazê-lo meu guardião. Afinal, não era o que ele queria.

Ele queria se tornar humano.

Meu celular tocou, abalando-me de meus pensamentos. Era o toque da minha melhor amiga Vee, mas eu deixei a caixa de correio atender sua ligação. Com um aperto de culpa, eu notei vagamente que era a segunda ligação dela que eu evitava hoje. Eu justifiquei minha culpa pensando que eu a veria logo cedo amanhã. Patch, por outro lado, eu não veria novamente até amanhã à noite. Eu planejava apreciar cada minuto que eu tinha com ele.





Eu o observei arremessar a bola numa mesa primorosamente alinhada com seus pinos de boliche, meu estômago agitando-se quando sua camiseta subiu pelas suas costas, revelando uma listra de pele. Eu sabia por experiência que cada centímetro dele era músculo duro e definido. Suas costas eram suaves e perfeitas, também, as cicatrizes de quando ele tinha caído uma vez novamente substituídas por asas – asas que eu, e todos os outros humanos, não conseguia ver.

“Cinco dólares que você não consegue fazer isso novamente,” eu disse, vindo por trás dele.

Patch olhou para trás e sorriu maliciosamente. “Não quero seu dinheiro, Anjo.”

“Opa, crianças, vamos manter essa conversa com classificação livre,” Rixon disse.

“Todos os três pinos restantes,” eu desafiei Patch.

“De que tipo de prêmio estamos falando?” ele perguntou.

“Maldição,” Rixon disse. “Isso não dá para esperar até que estejam sozinhos?”

Patch me lançou seu sorriso secreto, então deslocou seu peso de volta, segurando a bola em seu peito. Ele deixou seu ombro direito cair, deslocou seu braço, e mandou a bola voando para frente o mais forte que pôde. Houve um crack! alto e os três pinos restantes espalharam-se pela mesa.

“Aye, agora você está encrencada, amada,” Rixon gritou para mim sobre a comoção causada por um pequeno grupo de espectadores, que estavam aplaudindo e assobiando para o Patch.

Patch se inclinou para trás contra a cabine e arqueou suas sobrancelhas para mim. O gesto dizia tudo: Pague.

“Você se deu bem,” eu disse.

“Estou prestes a me dar bem.”

“Escolha um prêmio,” o velho comandando a cabine latiu para Patch, curvando-se para pegar os pinos caídos.

“O urso roxo,” Patch disse, e aceitou um ursinho de pelúcia de aparência horrorenda com pêlo roxo desbotado. Ele o esticou para mim.

“Para mim?” eu disse, pressionando uma mão em meu coração.

“Você gosta dos rejeitados. Na mercearia, você sempre pega as latas amassadas. Estive prestando atenção.” Ele curvou seu dedo no elástico da minha calça jeans e me puxou para mais perto. “Vamos sair daqui.”





“O que você tinha em mente?” Mas eu estava quente e palpitante por dentro, porque sabia exatamente o que ele tinha em mente.

“Sua casa.”

Eu balancei minha cabeça. “Não vai dar. Minha mãe está em casa. Podíamos ir para a sua casa,” eu sugeri.

Estávamos juntos a dois meses, e eu ainda não sabia onde o Patch morava. E não por falta de tentativa. Duas semanas num relacionamento parecia tempo o bastante para ser convidada, especialmente já que Patch vivia sozinho. Dois meses parecia um exagero. Eu estava tentando ser paciente, mas minha curiosidade continuava se metendo no caminho. Eu não sabia nada sobre os detalhes particulares e íntimos da vida do Patch, como a cor da tinta em suas paredes. Se seu abridor de latas era elétrico ou manual. A marca de sabonete com a qual ele toma banho. Se seus lençóis eram de algodão ou seda.

“Deixe-me adivinhar,” eu disse. “Você mora num composto secreto enterrado no ponto fraco da cidade.”

“Anjo.”

“Tem pratos na pia? Roupas de baixo sujas no chão? É muito mais particular que a minha casa.”

“Verdade, mas a resposta ainda é não.”

“O Rixon já viu sua casa?”

“Rixon é sigiloso.”

“Eu não sou sigilosa?”

Sua boca retorceu. “Há um lado negro em ser sigiloso.”

“Se me mostrasse, teria que me matar?” eu adivinhei.

Ele enroscou seus braços ao meu redor e beijou minha testa. “Quase. Quando é a hora de recolher?”

“Às dez. Escola de verão começa amanhã.” Isso, e minha mãe tinha praticamente assumido um trabalho de meio período achando oportunidades em atrapalhar eu e Patch. Se eu estivesse fora com a Vee, eu poderia afirmar com certeza absoluta que minha hora de recolher teria sido esticado até dez e meia. Eu não podia culpar a minha mãe por não confiar no Patch – teve um ponto na minha vida quando eu me sentira de forma similar – mas seria extremamente conveniente se de vez em quando ela relaxasse sua vigilância.

Como, digamos, hoje à noite. Além do mais, não ia acontecer nada. Não com meu anjo da guarda parado há centímetros de mim.

Patch olhou para seu relógio. “Hora de partir.”

Às 22h04, Patch virou uma curva em U na frente da casa da fazenda e estacionou próximo à caixa de correio. Ele desligou o motor e os faróis, deixando-nos sozinhos no campo escuro. Ficamos sentados desse jeito por diversos instantes antes que ele dissesse, “Por que está tão quieta, Anjo?”

Eu instantaneamente voltou à atenção. “Estou quieta? Só estava perdida nos pensamentos.”

Um sorriso quase visível curvou a boca de Patch. “Mentirosa. Qual o problema?”

“Você é bom,” eu disse perceptivelmente.

Seu sorriso se alargou por uma fração. “Realmente bom.”

“Eu trombei com a Marcie Millar na barraca de hamburguer,” eu admiti. Lá se foi deixar meus problemas só para mim mesma. Obviamente eles ainda estavam ardendo sob a superfície. Por outro lado, se eu não pudesse falar com Patch, com quem eu poderia falar? Há dois meses nosso relacionamento envolvia um monte de beijos espontâneos dentro de nossos carros, fora de nossos carros, sob as arquibancadas, e em cima da mesa da cozinha. Também envolvia muitas mãos perambulando, cabelos desgrenhados, e gloss labial borrado. Mas era tão mais que isso agora. Eu me sentia conectada ao Patch emocionalmente. Sua amizade significava mais para mim do que uma centenas de conhecidos casuais. Quando meu pai morrera, ele deixara um enorme vácuo dentro de mim que ameaçava me comer de dentro para fora. O vazio ainda estava aqui, mas a dor não era mais tão profunda. Eu não via o por que de ficar congelada no passada, quando eu tinha tudo que queria agora. E eu agradecia ao Patch por isso. “Ela foi considerada o bastante para me lembrar de que meu pai está morto.”

“Quer que eu fale com ela?”

“Isso soa um tico com O Poderoso Chefão.”

“O que começou a guerra entre vocês duas?”

“Esse é o negócio. Eu nem mesmo sei. Costuma ser sobre quem pegava a última bebida de chocolate no engradado do almoço. Então um dia, no ensino fundamental, Marcie marchou na escola e pichou 'vadia' no meu armário. Ela nem ao menos tentou ser furtiva quanto a isso. A escola toda estava olhando.”

“Ela explodiu simplesmente assim? Sem razão?”

“Aham.” Por nenhuma razão que eu estivesse ciente, de qualquer jeito.

Ele enfiou um dos meus cachos atrás da minha orelha. “Quem está ganhando a guerra?”

“Marcie, mas não por muito.”

Seu sorriso cresceu. “Pegue-a, Tigresa.”

“E outra coisa. Vadia? No ensino fundamental, eu nem tinha ao menos beijado alguém. Marcie devia ter pichado ser próprio armário.”

“Está começando a parecer que você está preocupada, Anjo.’ Ele deslizou seu dedo sob a alça da minha regata, seu toque mandando zunidos elétricos pela minha pele. “Aposto que posso tirar sua mente da Marcie.”

Algumas luzes estavam acesas no andar de cima da casa da fazenda, mas já que eu não vi o rosto da minha mãe pressionado contra qualquer uma das janelas, eu considerei que tinha algum tempo. Eu retirei meu cinto de segurança e me inclinei sobre o meio do carro, encontrando a boca do Patch na escuridão. Eu o beijei lentamente, saboreando o gosto de água salgada em sua pele. Ele tinha se barbeado essa manhã, mas agora seus pêlos já raspavam meu queixo. Sua boca deslizava pela minha garganta e eu senti um toque de língua, fazendo com que meu coração batesse contra minhas costelas.

Seu beijo moveu-se para meu ombro nu. Ele abaixou a tira da minha regata e roçou sua boca mais abaixo pelo meu braço. Bem então, eu queria estar o mais próxima dele que podia. Eu não queria que ele se fosse nunca. Eu precisava dele na minha vida agora, e amanhã, e depois de amanhã. Eu precisava dele como nunca precisei de ninguém.





Eu engatinhei sobre o meio do carro, sentando de pernas abertas no seu colo. Deslizei minhas mãos pelo seu peito, agarrei-o pela nunca, e o puxei. Seus braços circularam minha cintura, me prendendo contra ele, e eu me aninhei mais profundamente.

Presa no momento, eu corri minhas mãos sob sua camiseta, pensando só em como eu amava a sensação do calor de seu corpo espalhando nas minhas mãos. Assim que meus dedos roçaram o lugar em suas costas onde as cicatrizes de suas asas costumavam ficar, uma luz distante explodiu nos fundos da minha mente. Escuridão perfeita, rompida por um estouro de luz cegante. Era como assistir um fenômeno cósmico no espaço há milhões de quilômetros de distância. Eu senti minha mente ser sugada para dentro da de Patch, para todas as milhares de memórias particulares armazenadas ali, quando de repente eu o senti tirar minha mão e a deslizar mais para baixo, para longe do lugar onde suas asas juntavam-se à suas costas, e tudo voltou abruptamente ao normal.

“Bela tentativa,” ele murmurou, seus lábios roçando os meus enquanto ele falava.

Eu belisquei seu lábio inferior. “Se pudesse ver meu passado simplesmente ao tocar minhas costas, você teria dificuldade em resistir a tentação também.”

“Eu tenho dificuldade em manter minhas mãos longe de você sem esse bônus de acréscimo.”

Eu ri, mas minha expressão rapidamente ficou séria. Mesmo com uma concentração considerável, eu mal conseguia lembrar de como a vira era sem o Patch. De noite, quando eu deitava na cama, eu conseguia me lembrar com claridade perfeita o timbre baixo da risada do Patch, o jeito como seu sorriso curvava-se ligeiramente mais alto na direita, o toque de suas mãos – quentes, macias, e deliciosas na minha pele. Mas era apenas com um esforço sério que eu conseguia obter memórias dos dezesseis anos anteriores. Talvez porque essas memórias empalideciam em comparação ao Patch. Ou talvez porque não houvesse nada de bom ali.

“Nunca me deixe,” eu disse ao Patch, curvando um dedo no colarinho de sua camiseta e puxando-o mais para perto.

“Você é minha, Anjo,” ele murmurou, roçando as palavras pela minha maxila enquanto eu arqueava meu pescoço mais para cima, convidando-o a beijar em qualquer lugar. “Você me tem para sempre.”

“Me mostre que fala sério,” eu disse solenemente.

Ele me estudou por um momento, então esticou a mão para sua nuca e abriu a corrente simples de prata que ele usava desde o dia em que o conheci. Eu não fazia ideia de onde a corrente tinha vindo, ou o significado por trás dela, mas eu sentia que era importante para ele. Era a única joia que ele usava, e ele a mantinha enfiada sob sua camiseta, próxima a sua pele. Eu nunca o vira tirá-lo.

Suas mãos deslizaram para a minha nuca, onde ele fechou a corrente. O metal caiu na minha pele, ainda quente dele.

“Isso foi me dado quando eu era um arcanjo,” ele disse. “Para me ajudar a discernir a verdade da farsa.”

Eu o manuseei gentilmente, assombrada com sua importância. “Ainda funciona?”

“Não para mim.” Ele entrelaçou nossos dedos e virou minha mão para beijar meus nós dos dedos. “Sua vez.”

Eu retorci um pequeno anel de cobre do meu dedo do meio da mão esquerda e o esticou para ele. Um coração estava entalhado à mão no interior macio do anel.

Patch segurou o anel entre seus dedos, silenciosamente examinando-o.

“Meu pai me deu na semana antes de ser morto,” eu disse.

Os olhos de Patch se moveram rapidamente. “Não posso aceitar isso.”

“É a coisa mais importante no mundo para mim. E quero que fique com ela.” Eu curvei seus dedos, dobrando-os em torno do anel.

“Nora.” Ele hesitou. “Não posso aceitar isso.”

“Me prometa que ficará com ele. Me prometa que nada nunca ficará entre nós.” Eu segurei seus olhos, recusando a deixá-lo se virar. “Não quero ficar sem você. Eu nunca quero que isso acaba.”

Os olhos de Patch estavam negros ardósia, mais escuros que um milhão de segredos empilhados em cima um dos outros. Ele deixou seu olhar cair para o anel em sua mão, virando-o lentamente.

“Jure que nunca parará de me amar,” eu sussurrei.

Muito levemente, ele assentiu.

Eu agarrei seu colarinho e o puxei contra mim, beijando-o mais febrilmente, selando a promessa entre nós. Eu prendi meus dedos entre os dele, a superfície rígida do anel mordendo as nossas palmas. Nada que eu fazia parecia me levar próxima o bastante dele, nenhuma quantidade dele era o bastante. O anel se aprofundou mais na minha mão, até que eu tivesse certeza que tinha rompido a pele. Uma promessa de sangue.

Quando eu pensei que meu peito fosse sofrer um colapso sem ar, eu me afastei, descansando minha testa contra a dele. Meus olhos estavam fechados, minha respiração fazendo com que meus ombros se levantassem e caíssem. “Eu te amo,” eu murmurei. “Mais do que eu acho que devia.”

Eu esperei que ele respondesse, mas, ao invés, seu aperto em mim se intensificou, quase protetivo. Ele virou sua cabeça na direção da floresta do outro lado da estrada.

“Qual o problema?” eu perguntei.

“Ouvi algo,”

“Fui eu dizendo que eu te amo,” eu disse, sorrindo enquanto traçava sua boca com meu dedo.

Eu esperei que ele retornasse o sorriso, mas seus olhos ainda estavam fixos nas árvores, que lançavam sombras mutáveis enquanto seus galhos acenavam na brisa.

“O que tem lá fora?” eu perguntei, seguindo seu olhar. “Um coiote?”

“Algo não está certo.”

Meu sangue congelou, e eu deslizei para fora de seu colo. “Você está começando a me assustar. É um urso?”

Não víamos ursos há anos, mas a casa da fazenda estava empurrada na beirada da cidade, e ursos eram conhecidos por vagar mais perto da cidade após a hibernação, quando estavam famintos e procurando por comida.





“Liga os faróis e buzina,” eu disse. Focando meus olhos na floresta, eu observei por um movimento. Meu coração debruou um pouquinho, lembrando-me da vez que meus pais e eu observamos das janelas da casa da fazenda enquanto um urso balançava nosso carro, sentindo o cheiro de comida dentro.

Atrás de mim, as luzes da varanda acenderam. Eu não precisava me virar para saber que minha mãe estava parada na entrada, franzindo a testa e batendo seu pé.

“O que é?” eu perguntei ao Patch mais uma vez. “Minha mãe está saindo. Ela está a salvo?”

Ele ligou o motor e colocou o Jeep para andar. “Vá para dentro. Há algo que eu preciso fazer."

“Ir para dentro? Está brincando? O que está acontecendo?”

“Nora!” minha mãe chamou, descendo os degraus, seu tom agravado. Ela parou há um metro e meio do Jeep e fez um gesto para que eu abaixasse a janela.

“Patch?” eu tentei novamente.

“Te ligo mais tarde.”

Minha mãe puxou a porta para que abrisse. “Patch,” ela o reconheceu curtamente.

“Blythe.” Ele deu um aceno distraído.

Ela se virou para mim. “Está quatro minutos atrasada.”

“Cheguei quatro minutos mais cedo ontem.”

“Minutos de sobra não funcionam com horas de recolher. Para. Dentro. Agora.”

Não querendo ir embora até que Patch me respondendo, mas não vendo muita escolha, eu disse a ele, “Me liga.”

Ele assentiu, uma vez, mas o foco singular de seus olhos me dizia que seus pensamentos estavam em outro lugar. Assim que eu estava fora do carro e em chão sólido, o Jipe movimentou-se para frente, não perdendo tempo em acelerar. Onde quer que Patch estivesse indo, era com pressa.

“Quando te dou uma hora de recolher, espero que a cumpra,” mamãe disse.

“Quatro minutos atrasada,” eu disse, meu tom sugerindo que ela podia estar exagerando.





Com isso ganhei um olhar que tinha desaprovação estampado por ele todo. “Ano passado seu pai foi morto. Há alguns meses, você mesma esbarrou com a morte. Acho que mereci o direito de ser superprotetora.” Ela andou duramente de volta para casa, os braços presos sobre seu peito.

Está bem, eu era uma filha sem coração e insensível. Entendido.

Eu voltei minha atenção para a fila de árvores na beira da estrada oposta. Nada parecia fora do normal. Eu esperei que um frio me alertasse que havia algo ali atrás, algo que não conseguia ver, mas nada parecia estranho. Uma brisa quente de verão passou farfalhando, o som de cigarras enchendo o ar. Na verdade, a floresta parecia pacífica sob o brilho prateado do luar.

Patch não tinha visto nada na floresta. Ele se afastara porque eu disse as três palavras muito grandes e muito estúpidas, que jorraram de mim antes que pudesse impedi-las. O que eu estivera pensando? Não. O que o Patch estava pensando agora? Ele tinha saído para escapar de responder? Eu tinha bastante certeza de que sabia a resposta. E eu tinha bastante certeza que explicava o por que eu fora deixada encarando a traseira de seu Jeep.